“CALZONCILOS CON NUBES” PEÇA TEATRAL DE
ANTONIO MIRANDA EM BOGOTÁ” 20-07-1972
Fugi para Bogotá. A situação estava tensa em Caracas, alguns acontecimentos políticos indicavam o início da decadência econômica e cheguei a sentir ameaça de vida.
Em Bogotá formei um novo grupo teatral para montar “Calzoncillos con nubes o si prefieren S.O.S. Colômbia”.
A crise na Colômbia era mais aguda, a luta política era ainda mais acirrada. Confundia-se revolucionarismo teatral com o receituário ideológico. Peças chatas, didáticas, dogmáticas davam o recado e a prescrição doutrinária, seguida de longos debates masturbadores, em que se pretendia retirar leite da pedra, salvando a unidade revolucionária quando grupos digladiavam na cena política em facções irreconciliáveis. Havia receitas, vários ismos pragmáticos, abordagens aguerridas e contraditórias, em clima de beligerância e intolerância. Cada um era dono da verdade e a verdade não estava com ninguém.
Havia receitas e verdades, em um pluralismo que era duro reconhecer. Maoistas, trotskistas, seguidores reacionários da “revolução cultural chinesa”, xenófobos, espécies de “xiitas” antecipatórios.
Tivemos que mudar de local de ensaio várias vezes. O texto era incisivo, falava das contradições, da desova ideológica e do fracasso do Vietnã, das guerras fraticidas e das ideologias intranscendentes, do resgate do ser humano em qualquer dimensão humana.
O texto não agradou àqueles que esperavam uma resposta, ao contrário, plantava dúvidas, questionava convicções, resgatava a contradição. A estreia, no Teatro Popular de Bogotá, causou algum tumulto. Falava-se no “allanamiento”
das forças repressivas do governo devido ao inclemente teor anti-governista e anti-militarista, mas as pressões mais fortes vinham das hostes esquerdistas mais dogmáticas.
Nem cheguei a ver o fim da história.
Veja a página sobre a montagem teatral: https://antoniomiranda.com.br/grupo_renovacion/grupo_renovacion.html
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